quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O segundo filho e a luta do casal

Voltamos de férias e poucos dias depois tínhamos a consulta de diagnóstico pré-natal. A consulta foi num hospital público e daí as cerca de 5 horas de espera... Achávamos que íamos conversar com a médica e marcar a biópsia para a semana seguinte e, finalmente, sabermos se seriamos felizes, ou não... Depois dessa espera, meio desesperada, fazemos a eco e a médica diz: não temos boas notícias... A minha resposta, no meio do choro, foi: outra vez não!!! 
Queria ter força e não conseguia, queria me deixar levar pelo choro e não conseguia. Não sabia o que fazer... Havia uma série de recomendações, de coisas que tínhamos de tratar e pensei: vou estar o mais calma e tranquila que consiga, vou tratar do que houver para tratar e depois me permito desabar, e assim foi... Estivemos sempre juntos, sempre a apoiarmos-nos, a dar o espaço que cada um precisa para sentir sozinho, digerir os sentimentos individualmente e voltar para apoiar o outro. É mesmo uma luta, uma busca e um caminho do casal.
Tal como nada acontece por acaso, só nos permitimos entrar no caminho da paternidade quando tínhamos estrutura individual e de casal para enfrentar tudo isso. Sei que é muito complicado de gerir por muitos cassais a perda de um filho, abortos sucessivos ou a dificuldade de engravidar, sei que pode afastar o casal ou a mulher, no meu caso, que tem o "problema", seja ele qual for, pode acabar por se afastar, sentindo que não merece o outro e se diminuindo e ao diminuir-se, torna-se mesmo menor... Outra dificuldade pode ser o não entendimento do outro pelo sofrimento de quem passa pela dor não só psicológica, como física ou o achar-se o maior sofredor e não entender que cada um sofre à sua maneira e todos precisam de apoio... 
Nunca é uma dor ou o sofrimento só de um lado e desde cedo percebi que o meu sofrimento e o dele são claramente diferentes, porque somos diferentes, mas equivalentes porque somos um casal. Não fui só eu que perdi um filho, fomos NÓS, não fui só eu que limitei o meu sonho, a decisão que eu tomar não implica só a minha vida, tem de ser uma decisão a dois. Eu não quis ser mãe, eu quis ser mãe de um filho DELE. Foi, e deve ser sempre e em tudo, uma escolha, uma decisão, uma jornada a dois! É claro que o "esforço" maior está do meu lado porque é no meu corpo que tudo acontece, mas tentei nunca esquecer dele, tentei sempre apoiá-lo e mostrar-lhe, claramente, que entendo a dor dele. Quando estou a sofrer fisicamente ele também sofre por mim, também lhe dói o facto de ver a pessoa qua ama a passar por isso. Esteve sempre, sempre, do e ao meu lado, passou por todas as etapas comigo. Sinto que cresci, que me superei em muita coisa, mas ele não ficou para trás, cresceu e se superou também. Tudo isso pelo que temos passado nos fortaleceu, nos aproximou e a postura dele só me fez e faz amá-lo e admirá-lo cada vez mais. Acho que a diferença entre os que se fortalecem e os que se afastam está aí, no facto de se crescer junto ou só um se superar e o outro não acompanhar  essa caminhada. Mas a "culpa" nem sempre é dos homens que nao se aproximam, também podem ser as mulheres que os afastam... 
Depois dessa segunda perda, estávamos no carro, a caminho de uma consulta, e ele segurou na minha mão com força, olhou-me nos olhos e disse: estamos cada vez mais unidos! Olho para ele cada vez com mais paixão e cada dia mais sei que quero ser mãe de um(ou vários) filho(s) dele, que escolhi a pessoa certa, que não podia ter pedido mais, que tenho mais uma luta pela frente, mas não estou sozinha nessa batalha. Tem sido difícil, mas com ele ao meu lado é tudo tãooooo mais fácil! ;o)

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