quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

MÃE por cesariana



Sempre achei que iria fazer cesarianas. A minha mãe teve 4, nenhuma delas por opção própria e, nessas coisas, mesmo que não seja regra, a probabilidade da genética se repetir é grande. Também sempre preferi que assim fosse; tinha medo do parto... Mas também sempre disse que sabia que o melhor era o parto natural e que, por opção minha, nunca escolheria cesariana.
Entretanto engravidei e chegou o momento de pensar a sério no assunto. E aí a minha opinião mudou completamente! Como sabem, tive de fazer uma interrupção médica da gravidez, na minha primeira gravidez e, apesar de não ter de fazer dilatação (estava grávida de 15 semanas), tive de fazer um parto. Na segunda gravidez, tive um aborto retido e tive de deixar que o meu corpo fizesse todo o trabalho de expulsão naturalmente. 
Na gravidez do Vicente, fiz as aulas de preparação pré parto, fiz algumas aulas de ioga e preparei-me física e emocionalmente para o parto natural (e idílico) com o qual tanto sonhava...  Sabia todos os passos, o processo, aquilo que queria, o que podia e devia fazer. Sonhava que me rebentariam as águas, que me prepararia com alguma calma e que iria para o hospital já em trabalho de parto. Idealizei e sonhei com todo esse processo a gravidez inteira. Conversava com o Vicente e até ponderava um parto sem epidural...
Infelizmente, assim não foi. O trabalho de parto estagnou e nunca consegui dilatar. Tivemos de partir para uma cesariana. Reagi mal aos opiáceos (combinados na epidural) e, mesmo com toda a medicação para os enjoos e as alterações que foram feitas ao longo desse tempo, estive 12 horas SEMPRE a vomitar. Não podia mexer a cabeça ou mesmo abrir os olhos que vomitava. Depois de vários avisos da médica ao longo de todo o processo, quando ela me diz que deveríamos mesmo partir para a cesariana, digo-lhe que já estava por tudo... 
Fiquei triste e desiludida. Não era aquilo que desejava e que tanto tinha imaginado. Entretanto, quinze meses depois, mesmo contra todas as expectativas, eu e o meu médico tentámos um parto natural com a Clarinha. Também não foi possível.... A única diferença é que a bolsa rompeu naturalmente, já prontinha para a cesariana. Fiquei feliz por, sendo algo que tanto queria, ter podido passar pela experiência.
Não era o ideal, não era o que idealizei, não era o melhor... Mas não era o melhor para quem?
Sim, foi o melhor! Aliás, foi a única opção. Para mim e para os meus filhos foi o melhor. Foi o que foi possível.
Fiz duas cirurgias no espaço de 15 meses. Cortaram a minha barriga em 7 camadas para chegar ao bebé, em cada uma das cesarianas. Não pude ver o parto. Estava imobilizada. O meu corpo tremia com uma intensidade alucinante. No parto da Clara bastou uma manta e lençóis aquecidos. No do Vicente foram necessárias mantas térmicas e um aquecimento. Tinha medo. Estava nervosa. Não pude fazer força ou acompanhar o processo. Apesar de não sentir dor, sentia meu corpo a ser mexido, remexido e puxado por dentro. Estive sempre com ânsia de vómito (o que, deitada de barriga para cima e imobilizada, é ainda mais angustiante). No segundo parto estive quase a desmaiar uma série de vezes (e no recobro a minha tensão subiu e não baixava. A enfermeira monitorizou e a injeção estava pronta a ser dada, quando lá baixou). O cheiro a pela queimada (do corte) não é agradável. Não podemos logo estar com o bebé porque temos de ser tratadas e cosidas.
A cicatriz é feia, demora a cicatrizar. Há agrafos (no meu caso) para retirar 12 dias depois. 
12 horas depois do parto, há o chamado "levante". Temos de levantar e tomar banho com calma e com a ajuda da enfermeira, para não desmaiarmos. A dor, que começa horas depois do parto, é ENOOOORME. É forte, aguda e imobilizaste. Tudo o que queremos é tratar do nosso bebé acabado de nascer e mexer, virar, amamentar ou mesmo tossir, rir ou espirrar causa muita dor. Essa dor dura dias. Vai diminuindo com o tempo, mas ainda há vestígios dela meses depois. Por estranho que vos pareça, para mim, ainda pior do que a dor da cesariana é a dor causada pelos gases, do ar que entrou no nosso corpo (comum em cirurgias no abdómen). Dói nas costas e no ombro e, até saber o que era aquilo... Horrível!
No pós parto, as mulheres que tiveram parto normal andavam pelo hospital com naturalidade e as que fizeram cesariana era passinho a passinho, com muito esforço, e com muita dor. A sensação é que nos coseram a barriga demasiado apertado e para nos pormos direitas é como se esticássemos a costura e repuxássemos todas as 7 camadas que nos cortaram...

Posto tudo isso, não, a cesariana não é mais fácil. Não, não preferia que assim fosse. Não, não me venham dizer que não sei o que é ser mãe ou que sou menos mãe por isso!
Somos MÃES e não mães por cesariana!
;o)



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4 comentários:

  1. :) Eu experimentei as duas opções... Tive 3 partos, um normal com epidural, um normal natural e uma cesariana.
    A nível de recuperação - pela minha experiência - não posso dizer que uma seja mais fácil que a outra... São diferentes... O que custa na cesariana levantar, custa no normal sentar...
    Mas uma mãe não é mais ou menos mãe pelo tipo de parto! Isso é idiotice! Uma mãe é Mãe!
    Beijinhos!
    Relato da Cesariana
    Relato dos partos normais
    5 em Crescendo

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  2. Tive cesariana porque quis, pela minha saúde tive receios. Sou epiléptica e tinha receio de ter alguma crise após o parto, queria estar preparada para a minha filha. Realmente não estive, quem lhe mudou as fraldas foram os enfermeiros e o pai. Mas com consciência de ir para uma cesariana, ia com o nervoso miudinho do que me iria acontecer, embora o meu obstetra me tivesse explicado tudo bem explicado. Levaram- me do quarto para a sala de parto, deram-me a epidural, respiro fundo para fazer rapidamente o efeito e o meu problema era que sentia as pernas, sempre senti e toda a gente me disse que não sentia. Ele acalmou- me, brincou comigo, a equipa brincou, cantamos,falamos ela custou a sair e remexer cá dentro é estranho. Mas ouvi chorar, vestiram- na ao meu lado, deram- ma e do meu colo passou para o do pai e veio novamente para o meu e a equipa nunca mais falou. Deixou- nos namorar a nossa bebé. Saí com ela para o recobro e mais tarde para o quarto e sim tivemos um mês duro de dores. Parecia uma velhota de 120 anos a andar, a levantar-me. Mas sou Mãe ��

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