segunda-feira, 10 de abril de 2017

"Mães a tempo inteiro"



No nosso imaginário é sempre um paraíso. Meninos lindos e cheirosos, cheios de lacinhos e roupas giras. Bem comportados e obedientes. Bebés que só comem e dormem. Nós com tempo para tudo, para arranjar as unhas e o cabelo, com a roupa maravilhosa e lindas porque o corpo já voltou ao normal em menos de nada. Casa limpa e arrumada, roupa lavada e passada. E, claro, tempo para ir tomar café com as amigas e namorar com o marido. 
Pois é....
Só que não!!!
A realidade é bem diferente! É o levantar cansada de uma noite mal dormida, com o cansaço acumulado dos últimos meses. Muitas vezes com a dor de cabeça que não nos largou desde que deitamos... É o tentar nos despacharmos e dar um jeito à casa (só pôr ordem na cozinha ou arrumar os brinquedos ou fazer uma máquina de roupa) antes do primeiro acordar. Mas é claro que antes mesmo de conseguirmos acabar o pequeno almoço (por vezes antes de começarmos) um deles acorda... Depois é a correria normal do dia, entre uma bebé de colo que mama e um bebé mais crescido, mas que ainda precisa de colo. Uma casa para gerir, refeições (que sejam saborosas e saudáveis) para pensar e preparar, banhos para dar, fraldas para trocar, brincadeiras para fazer com o mais velho, choros para conter, um que acorda o outro, que ainda agora havia adormecido ou o outro que não quer dormir ou a bebé que resolve só dormir ao colo... 
Nisto os dias passam, quase sempre iguais, sem cafés ou conversas com amigas, sem tempo para pensar que existo, quanto mais em me arranjar. Claro que quando o marido chega, por norma, não há disposição ou energia para nada, mais ainda porque os miúdos estão acordados, ainda precisam de atenção e colo e tudo mais...
Essa é a minha realidade neste momento. Uma mãe a tempo inteiro, com um filho de 18 meses e uma bebé de 2 meses. Faço-o com gosto e não sou de reclamar. Mas faço-o por eles, porque sei que é o melhor para eles. Sei que o mais difícil é uma fase e que há de melhorar. Que nos momentos mais difíceis dá vontade de fugir, mas que com amor tudo se supera. Que ouvir dos médicos que estão com um desenvolvimento óptimo e que ainda bem que têm a sorte de ter a mãe em casa, compensa as dores de cabeça. Poder acompanhá-los, ver os primeiros passos, ouvir as primeiras palavras, ver a primeira vez que se sentam, sentir seus abraços e ver os seus sorrisos ao longo do dia supera tudo! 
Mas não julguem que é fácil, que é vida de "dondoca", como já ouvi ou que é mais fácil para mim porque "estou em casa", que para o pai que vai trabalhar! Não descurando o trabalho do pai (que o cá de casa é realmente maravilhoso), mas por cá não há pausas para cafés, tempos mortos, horas de almoço, convívio com colegas, hora de entrada e de saída...
Depois não há tempo para ir ao cabeleireiro, nem sempre dá para ir ao dentista, que já estava marcado há um mês, mas que entretanto há um que acorda, a outra que chora e que quer mamar antes do previsto... Também não há tempo para ginásios ou desportos, não há como usar um salto alto ou um vestido mais arranjado e, quando há um milagre e os dois dormem ou até dava para ficarem com os avós por um bocadinho para os pais irem namorar ou serem um casal, a energia é pouca ou nenhuma... Somos mesmo o fim da lista de prioridades...
E esta tem sido a minha vida nos últimos tempos. E assim continuará nos próximos. 
Por cá vive-se um dia de cada vez e faz-se o que se pode! É essa a vida de uma "mãe a tempo inteiro". 
Mas prefiro essa a chegar a casa ao fim do dia e não ter tempo para eles. Vê-los na hora dos banhos, jantar e cama. É compensador e reconfortante acompanhar as primeiras vezes, estar com eles ao longo do dia e vê-los crescer a cada momento. Depois é importante afastar a tristeza ou frustração que por vezes aparecem. Descansar, quando possível. Comer bem. Não estar sempre em pijama. Aceitar que somos humanas. Nada será perfeito e quem diz o contrário mente... Quando der vontade de reclamar, reclamamos. Se uma vez ou outra fomos rabugentas, que entendam. Se há um dia em que a horas de jantar estamos exaustas e nada está feito, pedimos uma pizza para nós e fazemos uma papa para a criança. Se temos vontade de chorar e nos achamos a pior das criaturas ou que não somos suficientemente competentes, percebemos que não passa de desespero e que vai passar. Que temos um trabalho de 24h e que é normal termos esses sentimentos; só não nos podemos deixar ficar por muito tempo! Se vemos blogs com famílias perfeitas, em que tudo corre como no nosso imaginário, compreendemos que aquela não é a realidade de uma mãe de classe média, com dois filhos em casa para criar e aceitamos a nossa realidade porque os dias mais difíceis são mesmo dias mais difíceis. Há sempre os mais fáceis, em que tudo parece correr miraculosamente bem e é a esses que nos agarramos.
;o)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada pelo seu comentário!