quarta-feira, 27 de abril de 2016

Amamentação II (a minha experiência)


                                      
Não imaginam quantas vezes já comecei a escrever este post... Mas desisto sempre a meio porque não consigo distanciar-me o suficiente da minha experiência na Maternidade. Não vos consigo contar o que aconteceu sem pormenorizar, sem fazer uma publicação enorme, cheia de emoção (negativa, infelizmente).
Portanto, vou pular essa parte e dizer-vos simplesmente que há falta de formação e informação, de empenho e dedicação de profissionais que deveriam ser especialistas em amamentação. Também haverá falta de profissionais e carga horária a mais, eventualmente. Mas uma coisa não justifica a outra, de todo!
Resumidamente, no momento em que iríamos ter alta do hospital, verificam que o Vicente havia perdido (muito pouco) mais de 10% do peso e não poderíamos sair naquele dia e, pior, eu teria de lhe dar suplemento. Fiquei absolutamente de rastos! Havia tentado de tudo. Tinha muita dificuldade porque ele não acordava por nada e, assim que acordava, voltava a adormecer em menos de 5 minutos...  Sei dizer que chamei enfermeiras e pediatras inúmeras vezes, pedi ajuda... Tive os dois mamilos gretados ao mesmo tempo e continuei a amamentar... 
Sabia, e sei, da enorme importância que tem o leite materno! Sabia, e sei (que tirando casos específicos) não há leites fracos e não há mulheres sem leite. Mas porque é que aquilo me estava a acontecer? Eu queria tanto amamentar... Fiz, e faria, qualquer esforço para que desse certo... Porque é que me estava a acontecer tal coisa?!?
Já desesperada para ir para casa, falei com o J e disse que ficaria ali mais uma noite mas que, no dia seguinte, com ou sem recuperação de peso, eu ia com ele para casa! Afinal, o que fazia ali podia fazer em casa, mas de forma mais tranquila, descansada e bem menos enervada do que ali (onde sentia que não tinha o apoio que precisava!). Iria dar o suplemento ao meu filho, claro; fome ele não iria passar, mas sempre insistir com a mama primeiro! Finalmente houve uma enfermeira especialista em amamentação (a única com quem me cruzei...) que me explicou que isso acontece com frequência com bebés grandes, como era o caso do Vicente. Ele era dorminhoco e estava habituado a receber os nutrientes de forma facilitada na barriga da mãe e, cá fora, tinha de se esforçar. E o que era suficiente para um bebé mais pequenino, para ele não era. Precisava de mais alimento, comia sempre mais do que aquilo que era "indicado" para o tempo dele. Com o passar do tempo isso se confirmou, com um bebé que nunca foi "pesado", mas que bebia muito mais leite que o expectável.
No dia seguinte, ele recuperou 3 vezes o peso que precisava recuperar e lá fomos para casa. Fomos à primeira consulta com a pediatra tinha ele 6 dias, preocupados com seu peso e a tentar ajuda para largar o suplemento. Posso vos dizer que tentei de tudo o que possam imaginar. Era tudo muito difícil porque o tínhamos de acordar para mamar (e ele não acordava por nada!). Dava-lhe mama e tirava o (pouco ou nada) que sobrava para a mamada seguinte. Tirava (o pouco ou nada) no intervalo da mamadas para a seguinte... Comia tudo aquilo que diziam que ajudava na produção de leite... A única coisa que, de fato, não consegui fazer, ao contrário do indicado, foi dormir e descansar. Nunca consegui "dormir quando ele dormia" e menos ainda descansar com tudo isso a assoberbar-me...
Mas não baixei os braços! O que eu tivesse iria dar-lhe. Não era por ele não mamar em exclusivo que não iria mamar. É sempre melhor mamar metade do que nada! Dava trabalho? Sim, muito! Muito mesmo! Mas saber que lhe fazia bem compensava tudo! As coisas começaram a melhorar depois do primeiro mês, quando deixamos de ter de o acordar para mamar. A partir daí ele foi fazendo os seus horários e acordando conforme tinha fome. Apesar de esse esquema do primeiro mês ter sido o suficiente para desregrar por completo os hábitos de sono e, por isso, até agora termos dificuldades em ele dormir uma noite inteira (quase aos 7 meses)...
Mas a produção de leite foi aumentando, apesar de nunca ter sido o suficiente para a fome dele. Durante a noite chegou mesmo a ser suficiente nos últimos meses, mas não durante o dia. Esse foi o nosso ritmo: amamentar e depois dar o suplemento (em quase todas as refeições) e sem saber ao certo quantidades, porque dependia sempre do que ele mamava e da sua fome (muito irregular). Assim que chegamos da maternidade, comecei a usar a tetina calma, da Medela. É uma tetina que obriga o esforço de sucção, que é recomendada em casos como esse, para que o bebé não desista da amamentação. Mas, obviamente, tem sempre um fluxo maior e dá menos trabalho do que mamar. O que começou a acontecer foi que ele mamava enquanto o leite saia facilmente e depois chorava a pedir o suplemento... Ainda podia ter experimentado não dar logo, deixá-lo com fome até ele ter de se esforçar e esperar que a produção fosse suficiente. Mas não fui capaz de o deixar com fome! Não era capaz disso... 
Segui com esse ritmo e, por volta dos 5 meses, quando introduzimos os alimentos, na hora das refeições dele tirava leite para que lhe desse mais do meu nas refeições seguintes. Acontece que, com intervalos de 3 horas entre uma refeição e outra, o tempo que perdia a organizar as refeições e ele comer, quando acabava de tirar leite já era quase hora de ele mamar e já não tinha leite suficiente para lhe dar... Deixei de tirar! Mas acabava por ter mais na refeição seguinte, o que até era positivo. 
Assim foi, até há pouco mais de uma semana, quando senti cada vez menos procura da parte dele. Já só queria maminha para o miminho e para adormecer... Depois de uns 3 dias sem mamar, voltou a pedir, mais em jeito de mimo mesmo, como que uma despedida, e nunca mais quis.
Para ser franca, por um lado me soube a alívio. Já estava saturada da "saga mama". Mas, ao mesmo tempo, dá-nos uma certa tristeza, uma nostalgia...
Foram muitos meses de muito trabalho e difíceis emocionalmente.  Mas consegui dar-lhe mama (mesmo que não a totalidade da sua alimentação) durante 6 mese e meio. Cumpri aquilo a que me propus. Devo confessar que me senti triste, abatida e inferior por não ter sido capaz de amamenta-lo integralmente. Até ontem. Ontem li um desabafo de uma mãe numa situação semelhante, com dificuldades em alimentar sua filha, e chorei. Emocionei-me ao sentir que suas palavras refletiam o meu desespero durante tantos meses. Fiquei solidária com ela, acheia-a uma grande mãe, uma grande mulher, por ter dado o seu melhor, por ter tentado e nunca desistido, por ter procurado o que era melhor para sua filha e por ter entendido que nem sempre o melhor acontece, nem sempre as coisas acontecem como deveriam, por ter partilhado sua história, tentando mostrar a outras mães/mulheres que o melhor caminho nem sempre é o caminho certo. Que o melhor caminho é aquele que for o possível, o mais adequado para cada família, cada situação.
Foi então que me senti feliz e tranquila. Como que liberta, com a sensação de dever cumprido. Não mais me senti inferior. Senti-me até vitoriosa e orgulhosa por não ter desistido, por não ter baixado os braços na primeira, segunda e terceira dificuldades. Por ter dado o que tinha e ter me obrigado a tentar mais e melhor. Por ter feito aquilo que era o melhor para o meu filho, apesar das dificuldades. Parece que foi uma espécie de catarse... 
E foi aí que consegui distanciar-me emocionalmente de tudo isso ser capaz de escrever e contar-vos a minha experiência...

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